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07/05/2025 11h11 – Atualizado há 23 horas
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Foto: Patrícia Junqueira/UOL
Com a proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, marcada para novembro em Belém, a capital paraense vive uma corrida contra o tempo para concluir dezenas de obras de infraestrutura. As intervenções, que incluem saneamento básico, mobilidade urbana e restauração de pontos turísticos, estão mudando a paisagem e a rotina da cidade. No entanto, especialistas alertam para os impactos sociais e ambientais das transformações aceleradas.
O projeto de pesquisa “COP30: das oportunidades de transformações urbanas aos desafios para a participação e o controle social”, coordenado pela professora visitante Olga Lucia Castreghini de Freitas, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA), faz uma análise crítica dos impactos do megaevento. A proposta da pesquisa é entender como Belém está sendo remodelada para receber a COP30 e quais os custos sociais e ambientais desse processo.
Segundo a professora, havia uma expectativa de que, por se tratar de um encontro “não comercial” voltado à emergência climática e realizado na Amazônia, a organização seguiria um modelo “diferente e inovador”. No entanto, as práticas adotadas têm repetido erros do passado, frustrando as expectativas de uma abordagem mais sustentável e inclusiva.
Entre os pontos positivos destacados pela pesquisadora estão os investimentos em obras há muito tempo reivindicadas pela população. “Belém é uma cidade que tem uma carência estrutural e histórica de obras, de saneamento, em especial. A COP tem potencializado o surgimento de investimentos e de recursos para uma série de obras de macrodrenagem, por exemplo. Isto é um ponto positivo”, afirma Castreghini. A restauração de cartões-postais, como o Mercado Ver-o-Peso, também é citada como um ganho para a cidade.
Por outro lado, a pressa para entregar tudo até novembro compromete processos fundamentais como a transparência e a sustentabilidade. “As obras são feitas a toque de caixa, e alguns processos desejáveis são atropelados”, critica a geógrafa. Ela também aponta a inexistência de mecanismos de controle social e participação popular nas decisões. Um dos casos mais preocupantes é o das remoções de moradores em áreas destinadas às intervenções.
Belém, marcada por altos índices de informalidade econômica, vive um momento em que muitos moradores veem o evento como uma oportunidade financeira. Para o estudante de pós-graduação em Geoturismo da UFPA, Jonathan Nunes, há um certo desconhecimento sobre o verdadeiro propósito da conferência. “Muitas pessoas nem sabem o que é a COP e encaram o evento como uma festa”, afirma. A explosão nos preços de hospedagem em plataformas online seria um reflexo dessa percepção.
Outro ponto de crítica levantado pelo projeto da UFPA é a construção ou ampliação de vias, como a Avenida Liberdade e a Rua da Marinha, que avançam sobre áreas verdes protegidas da cidade. Embora projetadas para melhorar a mobilidade urbana, essas intervenções geram impactos ambientais significativos, o que contraria o espírito da conferência climática.
Com menos de seis meses até o início da COP30, Belém vive uma transformação sem precedentes. Resta saber se o legado deixado pelo evento será verdadeiramente positivo e inclusivo, ou se ficará marcado pelos atropelos em nome da urgência.
Com informações do UOL.