Faltam remédios, respeito, estrutura e segurança — mas sobram promessas nunca cumpridas
Enquanto Belém se prepara para sediar a COP30, o Hospital de Mosqueiro vive o oposto: abandono e sofrimento. Mesmo com verbas sendo repassadas regularmente, faltam esparadrapos, gases e até medicamentos básicos. Pacientes precisam comprar por conta própria.
Projetos importantes, como uma uma unidade neonatal, centro de pré-natal, CTI e nova emergência, já foram anunciados. O tomógrafo, por exemplo, continua encaixotado há anos, com fala de falta de espaço — mesmo o hospital tendo estrutura para mais um centro cirúrgico. A direção muda a cada quatro anos, mas nada muda. Promessas se repetem, e a execução nunca acontece.
O que se vê são médicos que mal examinam pacientes, desfazem prescrições uns dos outros e tratam com descaso quem mais precisa de cuidado. Há relatos de mortes por negligência e ausência de preparo em procedimentos simples. Técnicos de enfermagem muitas vezes têm mais conhecimento prático que os médicos em plantão. Mas faltam investimentos em capacitação e gestão, fiscalização. O salário base dos servidores é de R$ 1.047. Sem estímulo, muitos perdem a motivação para fazer o trabalho como deveria.
A fisioterapia, por exemplo, não existe. Pacientes — inclusive idosos — precisam ir até Belém, em ônibus lotados, muitas vezes em pé por mais 3 horas.
Para piorar, o banheiro feminino do setor público interditado. Mulheres e crianças são obrigadas a usar o banheiro masculino — um absurdo que se arrasta com promessa de solução. Uma violação de dignidade.
A segurança também preocupa. Mesmo com Guarda Municipal presente, já houve invasão de um homem armado no hospital para tentar matar um paciente. A guarda permanece apenas na guarita, e não há rondas internas.
O hospital está bem abastecido de alimentos, mas isso não resolve a ausência de medicamentos, o mau atendimento e a falta de médicos comprometidos com o povo. Mosqueiro só realiza cirurgias simples. As mais complexas são transferidas para Belém, onde a espera pode durar anos.
Um paciente foi diagnosticado com HIV no Hospital de Mosqueiro e, em seguida, transferido para Belém. A notícia abalou emocionalmente seus familiares e influenciou diretamente em seu encaminhamento e tratamento. Após a transferência, o paciente veio a óbito. No entanto, exames realizados já na capital confirmaram que ele não era portador do vírus HIV. O diagnóstico inicial estava errado. Esse erro causou sofrimento emocional à família e pode ter prejudicado o tratamento do paciente. Casos como este expõem a falta de preparo, ausência de protocolos e negligência médica, fatores que já contribuíram para outros agravamentos e até mortes evitáveis.
Durante o mês de julho, com mais turistas, o atendimento melhora. Mas o resto do ano é marcado por filas, falta de materiais e desrespeito à população. A comunidade pede socorro. Entra direção, sai direção, e o cenário só piora.
A comunidade cobra respeito, precisão nos diagnósticos e compromisso com a vida. Mosqueiro precisa de ação imediata. Chega de promessas. O povo quer respeito e saúde de verdade.