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17/05/2025 13h16 – Atualizado há 1h
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Foto: Divulgação
A artista plástica Rafaela Moreira, que assina como Rafael Matheus Moreira, apresenta a exposição “Como pintar uma travesti?”, em cartaz a partir desta sexta-feira (16), às 19h, na galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (CCBEU), em Belém. A mostra segue até o dia 28 de junho, com entrada gratuita e visitação aberta de terça a sexta-feira, das 14h30 às 18h.
Com um trabalho autoral potente e instigante, Rafa propõe romper com os estereótipos frequentemente impostos aos corpos transexuais femininos na história da arte. “Ao longo da história, quem vem nos retratando (travestis femininas) são homens cisgêneros (heterossexuais), que buscam a nossa objetificação e exotificação. Eu fujo desse olhar óbvio, trago a relação das quebras da visualidade da arte paraense”, afirma a artista, que transforma sua vivência em criação e crítica.
Rafa Moreira é formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com especialização e mestrado em andamento na área. Ela coleciona prêmios em salões de arte como o Primeiros Passos do CCBEU e o prestigiado Arte Pará, onde conquistou o primeiro lugar em 2024. A artista também participou da Bienal das Amazônias e atualmente tem obras no acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP), entre elas a pintura de Érika Hilton, elogiada pela própria deputada.
Na exposição em Belém, Rafa apresenta 36 obras recentes, datadas de 2024 e 2025, com técnicas mistas de pintura acrílica e óleo. A curadoria é assinada por Rosângela Brito e Mayrla Andrade. O questionamento de gênero é um eixo central da mostra, que traz tanto autorretratos como retratos de convidadas, entre elas a influenciadora paraense Leona Vingativa.
Entre as séries expostas estão “Quebras”, “Raio que o trava” e “Mariposas”. A primeira investiga as rupturas estéticas e simbólicas no campo da arte e identidade. A segunda, inspirada na estética modernista do “raio que o parta” presente nas fachadas de Belém nos anos 1950 e 1960, explora a desconstrução de padrões. “A quebra é uma forma de me libertar dos padrões”, diz Rafa. Já em “Mariposas”, a artista associa a metamorfose dos insetos à transição de gênero e denuncia a curta expectativa de vida de mulheres trans no Brasil: “A expectativa de vida de mulheres trans no Brasil é só de 35 anos”, alerta.
Além das telas, a escolha de Rafa por assinar seus trabalhos com o nome de batismo também carrega uma crítica contundente. “No passado, as mulheres cis foram desacreditadas em seu trabalho, assinavam (obras) com os nomes dos maridos e dos pais para adentrar no sistema da arte. Hoje, ao utilizar o meu ‘nome morto’ como autora, estou questionando se essa tradição de desacreditar corpos mudou. O cenário da arte é um local muito difícil de ser acessado por pessoas trans, atualmente”, destaca.
A exposição convida o público a revisitar convenções históricas, refletir sobre o lugar dos corpos trans na arte e reconhecer a potência criativa de artistas que rompem invisibilidades com beleza e coragem.
Com informações do G1.