Cinco anos sem padre Bruno Sechi: homenagens em Belém destacam legado na luta por direitos de crianças e adolescentes
Belém.com.br
30/05/2025 23h58 – Atualizado há 23 horas
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Foto: Divulgação
Cinco anos após a morte de padre Bruno Sechi, educadores sociais, representantes de movimentos populares e membros da sociedade civil se reuniram, nesta quinta-feira (29), em Belém, para homenagear a trajetória do religioso que deixou marcas profundas na luta por justiça social e dignidade para crianças e adolescentes em situação de rua. A data se tornou símbolo de resistência e memória viva do trabalho iniciado por ele no Pará ainda na década de 1970.
O ponto alto das homenagens ocorreu no Solar da Beira, no complexo do Ver-o-Peso, local onde padre Bruno, junto com jovens da Escola Salesiana da Sacramenta, iniciou um trabalho de educação social de rua, em 1970. Ali, os participantes do encontro promoveram momentos de reflexão, oração e debate sobre políticas públicas voltadas à população em situação de rua, reafirmando a importância histórica do local e do legado do padre italiano radicado no Pará.
“Em 1970, o padre Bruno iniciou, no Ver-o-Peso, em Belém, um trabalho de educação social de rua, junto com um grupo de jovens da Escola Salesiana da Sacramenta”, lembrou Naraguaçu Costa, integrante do Movimento Nacional de Meninas e Meninos de Rua. Daquela ação nasceu o que viria a ser o Movimento República de Emaús, organização que até hoje atua na defesa dos direitos de crianças e adolescentes marginalizados.
O movimento se fortaleceu com iniciativas como o Restaurante República do Pequeno Vendedor, espaço que alia alimentação, brincadeiras, leitura, jogos pedagógicos e formação cidadã. “Hoje, esse trabalho se tornou o Movimento República de Emaús, que, a partir da escuta e do diálogo com meninos e meninas em situação de rua, criou o Restaurante República do Pequeno Vendedor”, explicou Naraguaçu.
A metodologia inspirada por padre Bruno incentivou a autonomia das crianças e adolescentes, promovendo o fortalecimento de sua identidade social e política. Essa experiência foi determinante para a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado após mobilizações nacionais e o reconhecimento, na Constituição Federal de 1988, da proteção integral da infância como dever do Estado, da família e da sociedade.
“Essas crianças e adolescentes passaram a se organizar em grupos e buscar cidadania e direitos sociais. Essa ação da pedagogia social de rua, baseada na cidadania e na afetividade, somada ao apoio do UNICEF, de juristas e de experiências comunitárias com meninos e meninas em situação de rua, contribuiu diretamente para a criação do ECA”, afirmou Naraguaçu Costa.
Padre Bruno foi um dos principais articuladores dessa rede de mobilização nacional. “Somos educadores sociais de rua, dos rios, roçados, campos e da floresta. Trabalhamos diretamente com meninas e meninos em situação de rua, vítimas do trabalho infantil, da exploração sexual e de várias formas de violência. Fomos formados por ele e carregamos seu legado de luta pela infância e pela Amazônia”, reforçou.
Desde então, o dia 29 de maio passou a ser celebrado por esses educadores como o “Dia da Pedagogia Social das Ruas, Rios, Roçados, Campos e Floresta”. Para eles, a luta continua onde quer que os direitos das infâncias estejam sendo violados. “Onde houver crianças e adolescentes com seus direitos sociais violados, seja o direito à educação, saúde, cultura, alimentação ou moradia, nós estaremos lá para escutar, organizar e lutar por cidadania e afetividade”, afirmou Naraguaçu.
O retorno simbólico ao Ver-o-Peso também serviu como denúncia e cobrança ao poder público. “Hoje, voltamos ao Ver-o-Peso, onde tudo começou, para falar sobre a situação do povo em situação de rua em Belém. E deixamos uma pergunta fundamental: Qual política pública está sendo feita para essa população?”, questionou Naraguaçu.
Com informações do O Liberal.