Belém x Recife: Disputa no Congresso acende debate sobre a verdadeira Capital Nacional do Brega
Belém.com.br
20/05/2025 10h48 – Atualizado há 18 horas
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Foto: Rodrigo Pinheiro/Ag. Pará
O brega é exagero, dor de cotovelo, brilho, paixão. E agora, também virou motivo de debate acalorado no Congresso Nacional. O Senado aprovou, na semana passada, um projeto de lei que concede a Recife o título de Capital Nacional do Brega. A decisão, no entanto, não agradou aos belenenses, que também reivindicam a paternidade (ou maternidade) do gênero musical que faz vibrar corações em festas populares, bares e rádios das duas capitais.
A proposta foi aprovada na Comissão de Educação do Senado e está pronta para ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Porém, nesta segunda-feira (20), o senador paraense Beto Faro (PT) apresentou um recurso pedindo que o projeto seja discutido em plenário. Seu objetivo é garantir o reconhecimento também à capital paraense: “Belém tem uma trajetória histórica no desenvolvimento desse gênero musical. Vem da guitarrada, da batida indígena, do bolero, do carimbó e da lambada”, afirmou Faro.
O deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), autor da proposta, rebateu com diplomacia. “Nada impede que o colega de outro estado faça a sua parte. Nossa intenção não é excluir, é amplificar. Tenho o maior respeito pelo querido povo do Pará e a sua rica manifestação cultural”, afirmou o parlamentar pernambucano.
Recife: Do romantismo ao bregafunk
Na capital pernambucana, o brega floresceu nos anos 1970 e teve seu maior símbolo em Reginaldo Rossi, cuja canção “Garçom” virou hino nacional da sofrência. Hoje, o ritmo se transforma constantemente com nomes como Priscila Senna, Michele Mello, MC Loma, MC Elvis e MC Neiff, que carregam o bregafunk para os palcos, festas e virais nas redes sociais.
Recife institucionalizou o gênero. O prefeito João Campos (PSB) já apareceu dançando em vídeos com óculos juliette e cabelo descolorido ao som de brega funk. O município ainda promove o festival “Recife Capital do Brega” e abriga bares temáticos como a Confraria dos Chifrudos. Além disso, o Dia Nacional do Brega foi oficializado em 14 de fevereiro, data de nascimento de Reginaldo Rossi, por lei de autoria do deputado federal Pedro Campos (PSB).
Belém: Aparelhagens, tecnobrega e internacionalização
Enquanto isso, Belém construiu sua própria narrativa brega por meio das aparelhagens — imponentes estruturas de som e luz que, desde os anos 1970, animam as periferias da cidade. O tecnobrega, herdeiro da lambada e da guitarrada paraense, ganhou o mundo com nomes como Gaby Amarantos, vencedora do Grammy Latino em 2023.
A capital paraense também deu origem à lendária banda Calypso, liderada por Joelma e Chimbinha, que levou o brega pop para palcos nacionais e internacionais, sempre com forte influência latina. “Belém é centrada na aparelhagem e nos ritmos latinos, com a guitarrada como base”, explica o pesquisador Yuri da BS. Para ele, o justo seria reconhecer ambas como capitais do gênero. “Ninguém quer perder o brega para outro lugar, porque aquilo faz parte intrínseca do local”.
Duas capitais, uma só paixão musical
Pesquisadores apontam que Recife e Belém desenvolveram vertentes distintas do brega, mas com origens populares semelhantes. Thiago Soares, autor do livro “Ninguém é perfeito e a vida é assim: a música brega em Pernambuco”, afirma que o estilo surgiu como uma dissidência da Jovem Guarda, em shows nas periferias. “Certamente as duas cidades são capitais do brega, e é importante ter leis que reconheçam o movimento”, argumenta.
A polêmica no Congresso escancara o que os fãs do gênero já sabem há tempos: o brega não tem dono, mas tem raízes profundas, emocionais e culturais que fincaram em Recife e Belém. Reconhecê-las é também reconhecer a diversidade e a força da cultura popular brasileira.
Com informações do Diário do Pará.